segunda-feira, 4 de julho de 2011

Por que esconder nosso passado?


Sinto-me sempre honrada quando um pesquisador, poeta e/ou cidadão permite-me publicar seu texto neste blog. Desta vez, tive o privilégio de receber o texto do Prof. Vlamir, de um amigo nosso em comum. E ele, generosamente me permitiu publicá-lo neste blog. O Prof. Vlamir transita por diferentes áreas. É graduado em Direito e em Tecnologia em Microprocessadores e Automação Industrial e é especialista em Softwares de  Microcomputadores. Mas sabe que nenhuma área esta desprovida de sua integração num contexto social. Este texto, com o qual nos brinda, mostra sua inquietação como pensador. Aproveitem! E se quiserem complementar estas reflexões, indico-lhes o texto de Thiago Fijos, também presente neste blog.
Por que esconder nosso passado?
Vlamir Belfante
Lendo o Diário do grande ABC, recebi de forma muito negativa a notícia no caderno Política, 7, de 28/06/2011, com o título “Papéis da ditadura desapareceram”.
O prejuízo a todos nós brasileiros é incomensurável.
Mais do que a cúpula política que deseja esconder nosso passado, não tão recente, de um Brasil diferente do que se mostra hoje, deve ser manifestada e feita a vontade de milhões de brasileiros na busca da verdade e da nossa identidade. Portanto, acredito não estar sozinho, mas apoiado por outras tantas manifestações que devem surgir para mudarmos os rumos dessa atitude vergonhosa de alguns dos nossos representantes.
Fiquei estarrecido com a citação da Guerra do Paraguai, assunto que muito nos interessa, pois além de professor universitário, sou graduado em capoeira, e na minha formação, abarco quando ensino aos nossos alunos, aspectos históricos sobre o tema e aí temos uma grande lacuna, pois algumas bibliografias citam os negros, escravos na época, como que recrutados para representar o Brasil nessa guerra.
Nestor Capoeira, em O Pequeno Manual do Jogador, na 6ª edição, em 2001, pela Editora Record, traz na página 42 que “Em 1865, o Brasil, juntamente com a Argentina e o Uruguai, entrou em guerra contra o Paraguai. A guerra foi “patrocinada” pela Inglaterra – que na época era o que os Estados Unidos são hoje -, que não via com bons olhos a economia autônoma do Paraguai. O exército brasileiro formou batalhões de capoeiras , tendo muitos sido agarrados à força nas ruas do Rio; aos escravos capoeiras foi prometida a liberdade no final do conflito. Os capoeiristas do Batalhão de Zuavos, especialistas em tomar as trincheiras inimigas na base da arma branca, fizeram misérias na Guerra do Paraguai, e cinco anos depois os que sobreviveram voltaram como heróis. Muitas dessas feras, agora transformadas em “heróis”, engrossaram as fileiras dos Guaiamus e Nagoas.”
Por outro lado, Almir das Areias em O que é Capoeira, da Ed. Brasiliense,  2ª Ed., p. 34 traz que em 1828, “a Coroa se viu na contingência de contratar estrangeiros para engrossarem as fileiras do Exército Brasileiro, contratando elementos da Irlanda, Alemanha e Inglaterra. Desse contingente, uma parte seguiu para o Rio Grande do Sul e outra ficou aquartelada no Rio de Janeiro. Aconteceu, entretanto, que esses batalhões estavam tremendamente descontentes com o governo, e a todo instante davam prova disso praticando atos de indisciplina. Assim, o comandante do batalhão alemão mandou que se castigassem alguns soldados. O resultado, porém, foi que a 9 de junho eles se rebelaram, prenderam o major e saíram armados às ruas, matando, devastando e saqueando tudo, a eles se incorporando os outros contingentes estrangeiros.
Pois bem, em toda essa inquietação e balbúrdia tiveram papel de relevante importância os tão combatidos capoeiras, pois como nos descreve J. M. Pereira Silva, os sublevados foram “atacados por magotes de pretos denominados capoeiras, travando com eles combates mortíferos. Posto que armados com espingardas não puderam resistir-lhes com êxito feliz, e apedra, a pau, à força de braços, caíram os estrangeiros pelas ruas e praças públicas, ferindo grande parte e bastantes sem vida.
Como vimos, os capoeiras, de perseguidos e tachados como o terrror e vergonha da civilização, passaram então a ser vistos “numa luta meritória” e assinalados na história como “heróis nacionais”.
 Ainda citam que quem de fato deveriam ir para os campos de batalha, desistiram na última hora. Daí ser a capoeira, além de esporte, cultura brasileira, arte, também arte marcial (arte de guerra).
         O prejuízo é de toda a sociedade que depende dos esclarecimentos do passado para construir um futuro melhor, corrigindo eventuais falhas e se espelhando nas virtudes anteriores.
         Não bastassem os documentos que foram extintos pelos políticos daquela época, deixando grande lacuna na história, o fato pode se repetir, se já não se repetiu, é deveras vergonhoso. Com certeza, há uma grande mazela junto aos historiadores, professores de história e simpatizantes pelo tema, que almejam esclarecimentos. Almir das Areias, já citado, em seu livro, p. 21, nos revela: “...Outro ponto que dificulta  o esclarecimento dessas questões é o fato, ridículo, da figura do nosso “ilustre Rui Barbosa”, o “Águia de Haia”, ter queimado todos os documentos referentes à escravidão, na alegação de que tais documentos eram retratos da “vergonha nacional” que a escravidão tinha sido”...
         Será que tais atos devem se repetir? Será que esconder por décadas, quando não, mais tempo, documentos de importância a todos os cidadãos brasileiros não equivale aos desfeitos de Rui Barbosa?
         Será que a segurança nacional seria tão afetada assim? Ou seria a segurança da vida pessoal de alguns políticos inescrupulosos?
         Será que já não se exauriram tantos fatos indesejáveis ocorridos na época dos ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor? Ainda mantém-se no poder e influenciam significativamente para obscurecer a verdade, e com respaldo da sociedade? Não consigo compreender. Me questiono se são tantos assim os interessados em mascarar nossa realidade? Fico na dúvida.
         Acreditando estar vivendo em uma sociedade onde a democracia plena deve se mostrar satisfatoriamente e inspirar confiança a todos, acredito que não seja demais exigir ao poder público, atitudes condizentes como representantes do país, merecedores de nossa confiança e respeito, que possam nos dar exemplos diante de fatos abomináveis que causam repulsa a todos.
         Faço de antemão um apelo ao judiciário, ao MP e a OAB, inicialmente, e outros representantes efetivos de nossa sociedade, que se manifestem, buscando esclarecer fatos, buscando a verdade, em nome de todos nós brasileiros, sempre por um país mais digno.

Vlamir Belfante
Professor universitário
Bacharel em direito
Graduado Alemão – Guerreiros da Ilha

Sinto-me sempre honrada quando um pesquisador, poeta e/ou cidadão permite-me publicar seu texto neste blog. Desta vez, tive o privilégio de receber o texto do Prof. Vlamir, de um amigo nosso em comum. E ele, generosamente me permitiu publicá-lo neste blog. O Prof. Vlamir transita por diferentes áreas. É graduado em Direito e em Tecnologia em Microprocessadores e Automação Industrial e é especialista em Softwares de  Microcomputadores. Mas sabe que nenhuma área esta desprovida de sua integração num contexto social. Este texto, com o qual nos brinda, mostra sua inquietação como pensador. Aproveitem! E se quiserem complementar estas reflexões, indico-lhes o texto de Thiago Fijos, também presente neste blog.

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